quarta-feira, 9 de maio de 2007

Entrevista: DJ SUTEMI

Dessa vez o entrevistado foi o Dj Sutemi, além possuidor de um famoso e explosivo set, ele é mentor de uma das novas iniciativas de festas dark psychedelic no Brasil, o projeto indoor 'Makunba'.




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1) Primeiro de tudo, seja bem vindo Sutemi. Por favor apresente-se aos leitores do Hazy Stories.

Sutemi - Obrigado. Fico feliz por estar falando com vocês, e já digo de cara que é minha primeira entrevista. Algo que na verdade eu nunca tinha pensado em conceder (risos). Mas vamos lá... Sutemi é meu sobrenome, mas meu nome é João Carlos, estou próximo dos meus 23 anos, nasci e morei em São Paulo, e há três meses, estou morando em Curitiba, junto de minha mulher.


2) Quando e como foi o seu primeiro contato com a música eletrônica?


Sutemi - É uma longa história, mas resumindo: na minha pré-adolescência, lá pelos meus nove, dez anos, influenciado pelo meu primo mais velho, que na época tinha seus treze, quatorze anos e curtia Jungle, comecei ouvir aquelas batidas totalmente quebradas e hipnóticas, e logo me apaixonei. Tratei de me apropriar de um cdzinho dele, chamado “Jungle Renegades”. Dali em diante, não teve mais volta. Ao invés de brinquedos e afins, passei a pedir discos como presente. O problema para os meus familiares era, onde achar esses tais bolachões de 12 polegadas? Acho que dei trabalho. E claro, meus familiares acharam BEM estranha aquela atitude, pela pouca idade que eu ainda tinha, fui levado até um especialista pra ver se estava tudo normal com a minha pequena pessoa (risos). De Balão Mágico passei a ouvir Goldie, Tek 9, Buckwild, Borderline, Optical, Alex Reece, Jonny L, entre muitos outros clássicos produtores de Jungle da época. Mas o primeiro contato mais direto com esse submundo, foi aos 14 anos, onde eu já conseguia entrar em algumas casas noturnas, por intermédio de alguns amigos mais velhos, travei uma grande batalha com a família, mas eu sempre daria um jeito de freqüentar os lendários clubs Sound Factory, Over Night, Toco, etc., que na época, eram OS picos de Sampa pra quem queria uma boa balada underground.


3) Quando e por quê resolveu virar DJ?


Sutemi - Na verdade, não planejei “virar” DJ. Ao longo desses anos, ao mesmo tempo que eu dançava, eu não tirava os olhos da mesa de equipamentos dos DJs. Achava, e ainda acho, tudo isso muito fascinante, mais que interessante, onde envolve muita criatividade e percepção, além de bom gosto musical, claro. Então acho que naturalmente, com o passar do tempo, meu interesse pela coisa foi crescendo, chegando ao ponto onde eu quis aprender, jamais imaginando que viria a ser profissional. Posso dizer que com os olhos e ouvidos, tive uma ótima escola, vendo incansáveis vezes DJs como Julião, Marky, Andy, Pet Duo, etc. arregaçando as pistas! Convivendo bem próximo daquilo, ouvi também bons conselhos de alguns desses “monstros”. Mas só em meados de 2000, tive meu primeiro contato com os toca-discos. Em quinze dias, aprendi tocar com vinil e cd. Odiava tocar com cd, até porque na época, eu ainda idolatrava o Jungle e o Drum’n’Bass, então, se não fosse vinil, não tinha de ser!


4) Por quê o dark psytrance?


Sutemi - A princípio quando comecei tocar, ou era Jungle/Drum’n’Bass, ou não era. Então em 2001 conheci o Psytrance, e ao contrario de muitos falsos moralistas, o Psytrance não mudou minha vida (risos). Não deram seis meses para que eu confirmasse que era “Jungle or Die”. Pelo fato de as festas proporcionarem sempre as mesmas coisas para o público, eu acabei cansando rápido daquilo, foi aí então que tive uma luz, de buscar o que eu tenho de minha raiz, o underground. Então conheci o Dark Psychedelic, e não deu outra! Na medida em que eu mais descobria, mais me interessava. Um som totalmente envolvente, introspectivo, psicodélico ao extremo, pesado, hard e free style! Juntou, praticamente, todos os ingredientes musicais que eu mais gosto de saborear, em um som só. Passei a entender que na verdade era e ainda é “Dark Psychedelic or Die”! Demorei alguns anos, para voltar a ouvir coisas que eu ouvia sempre, por causa do Dark Psy.



5) Além de fazer Dj Set, você produz música eletrônica? Se não, já pensou em produzir?


Sutemi - Putz! É algo que já virou novela na minha vida. Desde 2004 estou nesse impasse de produzir. Amo fazer o que eu faço, porém sempre estou em busca da evolução, e esta, é passar de DJ a Produtor. Mas me conformo pelo fato de ter tido muitas mudanças na minha vida nesse tempo, acabei não tendo muito tempo para me dedicar a produção ainda. É algo que eu quero muito, porém, como tudo, tem que haver paciência. Tenho muitos amigos envolvidos nisso, onde eu até participei de algumas produções. Tenho também alguns “rascunhos” de própria autoria no meu humilde Studio Home, que ainda não passa de equipamentos básicos. Mas produção mesmo, de qualidade, ainda não. Acredito e idealizo que dentro de no mínimo dois anos, talvez eu comece a dar minha cara à tapa como produtor, mas só farei isso quando tiver uma segurança sobre meu próprio som. Eu disse “no mínimo”, pelo fato de eu ser muito crítico e chato em respeito à música (risos).


6) Qual foi a festa na qual você mais gostou de tocar? Por quê? E a pior?


Sutemi - Esse é o tipo de pergunta bem complicada de responder. Não consigo citar apenas uma. Cito a Etnica, Respect e Daime Tribe em São Paulo, e a Makunba e Cosmoon em Curitiba. Cada festa com o seu motivo, mas alguns motivos em comum dentre todas, é que nestas, o público realmente entendeu o que eu quis passar quando estava tocando e foram/são festas realmente psicodélicas. A pior, graças a Deus, não tive uma, ainda, que eu possa dizer: “Nossa, que merda!”, mas por incrível que pareça, o Festival de Música Quantika (Earthdance 2005), em Minas Gerais, que foi organizado pela Quantika Records e parcerias teve uma das piores organizações que já presenciei. Tiveram seus contra tempos, mas em qualquer evento ocorrem vários contra tempos, tem que estar preparado pra tudo, se quiser dar uma de organizador. Ou faz direito, ou nem faz.

7) O que não pode faltar no seu set?


Sutemi - Eu deveria perguntar pra galera que já ouviu meu set algumas vezes, eles responderiam isso melhor que eu, talvez. Porque o que eu não faço, é repetir set. Claro que algumas músicas, é difícil de deixar de fora, mas set treinadinho não é comigo. Mas algumas coisas que eu sempre quero transmitir nos meus sets, são: psicodelia, mixagens bem exploradas e inesperadas, e a criação de uma história com muita atmosfera, com começo meio e fim.


8) Além do dark o que você costuma escutar?


Sutemi - Gosto de ouvir coisas novas, o que tenho de costume é jungle, IDM, minimal e techno. Mais atualmente rock psicodélico, dub... nossa, muitas coisas! Estou procurando ouvir sons diferentes, tenho que estar atualizado nas coisas boas fora da e-music também. Acho muito importante.


9) Sabe-se que você está por trás da produção da festa Makunba, fale mais sobre o projeto.


Sutemi - O projeto Makunba é um projeto indoor no qual unifica conceito, psicodelia sonora e visual, artistas de qualidade e preços acessíveis e só acontece nas sextas-feiras 13. Tem como principal característica a exploração da música psicodélica noturna. Vindo para Curitiba, desde 2005, percebo a tempos que a galera aqui tem carência de festas indoor de qualidade, principalmente que proporcionem novidades e grandes projetos/djs no line up. Prezei, principalmente, pela qualidade da festa e pelo respeito ao público e, como retorno, tivemos uma grande festa indoor! Até onde eu vi, todos saíram no mínimo satisfeitos com o que viram e ouviram.


10) A festa teve o resultado esperado?


Sutemi - Teve! Financeiramente falando, não foi a melhor coisa do mundo. Todos que me conhecem, sabem de onde eu vim, então, tomar prejuízo não é muito fácil nas minhas condições, mas foi algo bem pequeno. O que me orgulho é que, mesmo sabendo da situação durante a festa, fizemos questão de pagar exatamente tudo que prometemos, nem mais nem menos! Afinal, antes de organizador, sou DJ, e sei muito bem o respeito que deve ser dado para cada artista, sendo ele gringo ou não, coisa que muitos organizadores não têm pelos seus contratados. Mas sobre a festa né?! (risos) Foi algo surpreendente! Sinceramente, não esperava que a festa “bombasse”. O lugar comportava 400, 450 pessoas, eu esperava umas 300 pessoas no máximo, e dessas 300 pessoas, eu esperava que apenas umas 150 pessoas permanecessem na festa até o fim. Pois ainda era 1 da madrugada, e a casa já estava bem cheia, mais de 350 pessoas, no giro deu próximo de 450. O melhor, foi que a festa foi prometida até 7 da manhã, eram 9 da manhã e ainda tinha uma galera lá, dançando e querendo mais, tivemos que desligar o som e “pedir” pra irem embora (risos).


11) Há previsões para uma próxima edição?


Sutemi - Com certeza! É um trabalho em longo prazo. Em São Paulo, todos sabem que a 3, 4 anos atrás, nada do que acontece hoje, acontecia. Por aqui, quero trilhar o mesmo caminho que trilhei lá. Na verdade, trilhar um caminho até melhor, por hoje ser mais experiente. Mas a próxima edição da Makunba já tem data, e é uma sexta-feira 13 de Julho. Estamos em busca de parceiros também, para aumentar nossos recursos, mas é difícil de alguém que não viva tudo isso querer investir em um projeto assim, por melhor que ele seja. Mas independente, quero, no mínimo, manter a qualidade da última edição. A intenção é sempre melhorar. Não tem como eu não querer continuar com a Makunba, depois de comentários como: “meu conceito mudou totalmente sobre música psicodélica e sobre dark trance” ou “me desculpa, sempre falei mal do dark, agora eu entendi o que realmente é dark, e o que é música eletrônica psicodélica”. Esses foram fatores mais que importantes para eu perceber que a Makunba tinha conseguido passar sua mensagem pra galera. Já estou vendo possíveis nomes para o line up da próxima edição e aproveito para dizer que quero manter uma rotatividade de artistas, tanto nacional como internacional. Não quero deixar cair na “mesmice”, quero proporcionar novidades pra galera. Sempre digo que o que falta principalmente pro público é informação.


12) O dark trance começou a ganhar espaço agora no Brasil, com a realização de festas como a Etnica, Respect e Makunba. Você acha que há a possibilidade de um crescimento ainda maior?

Sutemi - Interessante a pergunta, pois é como eu disse na pergunta anterior. Há 3, 4 anos atrás, pouco se ouvia sobre dark, claro que como você disse Bruno, só agora o dark esta tendo um espaço considerável aqui no Brasil. Mas já houve um enorme crescimento da cena underground. Lembro-me de festas abertas, com um line up de muita qualidade, para 100, 150 pessoas, festas indoors de qualidade igual, com 30 pessoas. Isso na época já era uma vitória pra gente! Sabíamos que aquelas poucas pessoas presentes eram pessoas que faziam parte do movimento há mais tempo e que cedo ou tarde teríamos uma resposta maior. Apostamos e lutamos pelo que acreditamos e estamos colhendo hoje o que foi plantado. Se há possibilidade de um crescimento maior? Claro que sim. Apesar de eu ser contra a idéia de virar “pop”, temos que ir devagar como sempre fomos para podermos passar música e informação, simultaneamente, e não perdemos o foco. Acho que será, como sempre foi, um processo natural das pessoas freqüentadoras. Uma hora o “semancol” tem de bater, daí irão à procura de algo que realmente lhes tragam experiências únicas e que alimente sua “fome” por música psicodélica. O Brasil tem futuro, mas não podemos deixar cair no mesmo erro que a cena comercial deixou cair, visando apenas lucro. Dinheiro todos nós precisamos, não vou ser hipócrita de dizer que não preciso ou não quero, mas não é tudo na vida para quem ama e vive tudo isso de verdade!

13) Você acha que o dark psy ganhará o mesmo espaço que gêneros como o progpsy e o electro-house têm, hoje em dia, no line-up das festas rave no geral?

Sutemi - Tomara que sim! Eu acredito que sim, senão não estaria remando contra a maré a alguns bons anos. Só que é relativo, hoje eu não vejo mais o prog psy com tanto espaço na cena brasileira, pelo fato de o electro e tech-house ter tomado o espaço que era do prog psy. Fico triste na verdade, por que electro e afins, nada tem haver com o contexto de uma festa psicodélica. São moldes formados para atrair público que curte 'popero' e a playboyzada, que, geralmente, não conhece muito o que ele está ouvindo. E por mais séria que seja a música, ela ainda se encaixa facilmente dentro do que é comercial, enfim, tudo para ganhar mais dinheiro! Nada contra quem gosta, mas não venha me falar que 8 é 80. Já que o brasileiro tem uma cultura “paga pau”, observamos Londres, e vemos que o electro bomba forte por lá, assim como o drum’n’bass. Mas tem um porém, são festas indoors! Nada misturado com festas psicodélicas. Acredito que, como já está acontecendo, finalmente o dark terá seu espaço, mais que merecido, nas noites das festas e festivais que se importam realmente com psicodelia, e que querem proporcionar uma larga experiência sonora para seu público. Em 5 anos o cenário por aqui estará bem mais obscuro. (risos)

14) Se você pudesse escolher qualquer artista da música eletrônica do mundo para tocar em uma festa sua, qual seria?

Sutemi - Na faixa?! (risos) Brincadeira... Cara, são muitos nomes, pensando em um evento de música eletrônica no geral, algo que comportasse vários estilos diferentes, penso em: primeiramente Asian Dub Fundation que é uma banda única de IDM/Jungle, Prodigy que é referência para muitos se tratando de free style music e infelizmente perdi as duas apresentações deles aqui no Brasil, Goa Gil que é o mestre da psicodelia. Seguindo a mesma idéia, penso em um nome que ainda não veio ao Brasil, talvez Psykovsky, Jelly Headz, Alien Mental, putz aí complica! Goldie ou J Magik que são uns dos monstros da história da cena Drum’n’Bass, Pet Duo representando muito bem o Brasil no Techno, Apoptygma Berzerk que é uma banda expoente do industrial... Nossa, eu ficaria até amanhã aqui falando, mas esses são grandes nomes que eu particularmente gostaria de ver tocando em uma festa minha. Mesclei várias vertentes por que é um “sonho” ter um festival de e-music underground. Festival que seria bem diferente do normal olhando esse pré line up. (risos)

15) Bem, Sutemi, muito obrigado por nos conceder esta entrevista. O espaço é seu. Deixe seu recado.

Sutemi - Eu que agradeço à procura! Desejo muito sucesso ao Hazy Stories e parabéns pela iniciativa, como eu sempre digo: “O Brasil precisa disponibilizar mais informação”. Porque se depender de outros veículos de informação mais populares, estamos ferrados! (risos) Meu recado é apenas de agradecimentos para as pessoas que sempre acreditaram em mim, que me ajudaram... sempre aprendi muito com as pessoas ao meu redor, por ser bastante observador, e serei sempre grato. Minha mulher, que sempre me dá forças quando mais preciso. Minha família, que mesmo travando inúmeras batalhas, sempre me deram liberdade para lutar pelos meus verdadeiros ideais. Ao público que me fez elogios, mas que também fez críticas. Enfim, um abraço a todos e muita bizarrice sonora pra nós! (risos)

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Entrevista por Bruno Azalim.

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Sites Relacionados:

http://djsutemi.multiply.com

http://www.dead-tree.net/v2/djsutemi/djsutemi.html

http://www.thefullonproject.com.br/release.asp?id=34

http://www.interalfa.com.br/ethereal/djs.php?nome=Sutemi

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3 comentários:

Unknown disse...

muito boa a entrevista!

não vejo a hora de ouvir o set do Sutemi!!

:-)

Unknown disse...

Excelente Dj e com uma ótima visão do cenário de hoje!!

Parabéns pelo Blog tbm!!

Abraço, David B. (Anauê-SC)

Anônimo disse...

Melhor set de progressivo q ja vi, cosmoon ctba 03/2010...

Parabeens!!!